quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Ilha dos Náufragos – Uma fábula para entender o dinheiro.

Em 2011 fiz este trabalho para estudantes do curso de Ciências Contábeis baseado na fábula "Ilha dos náufragos - uma fábula para entender o dinheiro". Mais precisamente um Estudo de Caso, trabalho este que recebeu nota 9, então acredito que será útil àqueles que necessitarem fazer um trabalho baseado nessa fábula. Boa leitura.

Introdução:

A fábula trata a ideia de um sistema financeiro aplicado à um novo “Estado”, no caso a então denominada “Ilha dos Náufragos”, através de uma parábola entrelaçando o surgimento do dinheiro, dos bancos, da exploração do trabalho e, sobretudo, das mazelas por trás destes. (conteúdo esquerdista detected hehe).
Visando uma melhor compreensão da narrativa lúdica da fábula para uma melhor aplicação ao estudo de caso, me atenho inicialmente à um contraponto entre a fábula e o  real funcionamento do "sistema", explanando um pouco da real história do dinheiro e dos bancos, enfim, dos primórdios do sistema financeiro. 
Na relação econômica, tudo começa após os problemas com o até então utilizado método de “escambo”, ou seja, a troca de um produto por outro “equivalente”, mas que boa parte das vezes não era tão equivalente assim e acabava devido à desproporcionalidade nessa relação, gerando conflitos e ocasionando descontentamento de alguma das partes envolvidas na troca de bens. Observando a necessidade de um meio comum que pudesse facilitar a troca e levando-se em conta que o ouro já era considerado valioso por todos, surgiu a ideia de utilizá-lo como meio de compra, o preço foi estabelecido para o ouro, e assim ficavam mais fáceis as comercializações, criando-se então uma moeda de troca, o homem passa a utilizar o ouro como moeda, visando dessa maneira, solucionar os problemas ocorridos com o método de escambo. Tempos passam, e as pessoas começam a perceber que não é tão seguro assim manter o ouro em posse pessoal, pois da mesma forma que hoje, em tal época também haviam ladrões dispostos a se apossarem de tal ouro. Baseados nessa ideia, para oferecer segurança à essa moeda, surgem aqueles que oferecem um local seguro onde se possa guardar o ouro em troca de uma “pequena” parte deste pelo serviço, uma espécie de taxa, eis que surge ai o primeiro banco da história. As pessoas que depositavam seu ouro no banco recebiam como comprovante de depósito os “I.O.U” (pronunciado em inglês, tais siglas tem a pronúncia semelhante a frase EU DEVO PARA VOCÊ), que eram uma espécie de escritura informal a qual se devia levar ao banco para poder então retirar o ouro lá depositado. As pessoas perceberam que ao invés de retirar o ouro no banco para comprar algum produto, seria mais conveniente entregar o “I.O.U” ao vendedor em troca da mercadoria, para que este em seguida retirasse o ouro no banco, esse método conveniente passou a ser usado em larga escala, tornando-se bastante popular, de tal modo que assim surgia de maneira sútil os primórdios do “papel moeda”. Como bem percebe-se havia uma relação em que o banco tornava-se possessor do ouro e em troca emitida os I.O.U para seus “correntistas”, visando o lucro com as taxas cobradas, situação análoga à fábula, percebida na atuação do banqueiro Martinho para com os náufragos.
Os banqueiros começaram a perceber, que poderiam emitir “I.O.U”s, mesmo sem ter ouro suficiente nas reservas, e assim, cobrar juros daqueles que pegassem essa “moeda” emprestada para pagá-la posteriormente ao banco com os devidos encargos, surgiam então, os primeiros empréstimos bancários. O banco emitia moeda, porém, sem lastro no ouro, dando origem à assim chamada emissão de “moeda podre”, ou seja, uma moeda que teoricamente, não possui valor, lastro na então riqueza que regulava a emissão de moedas, o ouro. Tais emissões de moedas desvinculadas das reservas de ouro  dão inicio à explosão inflacionária, quanto mais moeda há em circulação, menos valorizada ela se torna, logo, demanda de uma quantidade maior de moeda para comprar um mesmo produto. As pessoas ao descobrirem tal farsa (emissão de moeda podre) correm para retirar o seu ouro, porém, como todas fazem isso ao mesmo tempo, não há ouro suficiente para reembolsar à todos. Ocorre ai o primeiro “default” bancário da história, nasce uma ideia tirana, a ideia de transformar papel sem valor em “ouro”, uma amostra das mazelas que os sistemas bancários poderiam/ podem provocar no sistema financeiro mundial.

Aplicação à Empresa. Estudo do caso:

A fábula nos permite um estudo comparativo com relação à elaboração empresarial, em que podemos fazer analogia entre os náufragos e os “imagináveis” dirigentes de uma nova empresa que se iniciam em um mundo novo, um território desconhecido, o mundo das empresas, cada um com suas particularidades e perspectivas com relação ao “novo” e desconhecido mundo dos negócios.
Ao atuarem na nova empresa, todos procuram aplicar suas melhores habilidades, apreciando o território promissor e lucrativo que há pela frente, afinal, toda empresa para manter sua existência, depende de algo essencial: o lucro. Quando esse não existe e passa a ser negativo, denominando-se prejuízo, nenhuma empresa consegue sobreviver, ela perde sua função e sentido de existência.
Fato é, que ao abrir uma nova empresa, várias pessoas se apegam à ideia de uma expansão rápida, explosiva, sem base nem alicerce. Podemos perceber na fábula, que todos os companheiros apesar de se dedicarem ao progresso de sua ilha e conseguirem até mesmo um sucesso inicial, não possuem o devido conhecimento econômico que possa lhes permitir formar um sistema financeiro na ilha dos náufragos e ficam apenas vivenciando as  ideias do quão maravilhoso seria haver uma moeda de troca, em conversas que não produziam resultados e continuavam apenas sendo ideias, somente conseguindo resolver a questão com o chegada na ilha de mais um náufrago, o banqueiro Martinho, que faz o uso de toda sua astúcia de banqueiro para lucrar sobre a ignorância alheia, de modo a gerar dividas “ad eternum”, impagáveis, que visam manter escravos rentáveis para o grande “Mammom”, fazendo com que os náufragos se tornem totalmente dependentes da sua atuação financeira.
Isso é por vezes, o que percebemos no território empresarial, maior parte das empresas se dissolvem em menos de dois anos por falta de conhecimento administrativo, contabilístico e, sobretudo, visão a longo prazo, vislumbrados com as possibilidades de expansão em tempo recorde, os novos empresários, despreparados e ansiosos, acabam seduzidos pelos empréstimos bancários “ofertados” com juros “reduzidos” e altamente financiáveis, que acabam se tornando as correntes da até então, promissora empresa. Os lucros de tal empresa, além de destinados a cobrirem os gastos com manutenção, pagamento de salários, despesas, reservas da empresa, etc, acabam direcionados em boa parte para o pagamento de juros mensais, os quais por mais que sejam pagos, sempre deixam para trás o capital principal, claramente, um ciclo vicioso, que arruína milhares de empresas pelo mundo.
Esse é um dos principais motivos pelo qual muitas pessoas fracassam em suas investidas, a desinformação. A desinformação, denominada de forma mais pejorativa como ignorância é uma inimiga tirana, nos torna escravos dos interesses alheios, dos que possuem esta informação que não possuímos, por esse motivo, por exemplo, existem as empresas de consultoria, estas buscam soluções para os problemas os quais, por falta de informação, não temos a solução e em troca disso recebem um pagamento do qual retiram seus lucros. Já dizia o velho adágio, “informação é poder”. E no caso principalmente de novos empresários, pode significar o poder de se manter no mercado e não servirem apenas de acréscimo às estatísticas de insucesso do SEBRAE.
Percebemos no decorrer da fábula, que os náufragos depois de submetidos ao tirano sistema bancário de Martinho, perdem a alegria de viver, trabalham mais, para pagar mais, e não para lucrar mais, semelhante ao que enfrentam as empresas que se tornam escravas do sistema bancário e dele se tornam dependentes. Percebe-se, porém, que essa história de submissão muda a partir do momento em que um deles – Tomás - descobre na ilha uma versão do primeiro ano de Vers Demain“, um jornal canadense emitido pela “Peregrinos de São Miguel” e que defende o catolicismo e a visão econômica do crédito social. Ou seja, a partir do momento em que a informação econômica começou a circular dentre o grupo, e deixar claro o que era necessário para um funcionamento mais eficaz do sistema financeiro, os náufragos encontraram a força necessária para se livrar das garras do sistema opressor. Eles perceberam que através de uma simples questão de contabilidade poderiam deixar o sistema financeiro de Martinho e adotarem ao “crédito social”, que tornaria mais “humano” e teria como o próprio nome sugere, um fundamento real de ajuda social, uma melhoria da sociedade como um todo.
Eles descobrem também que Martinho na verdade não tinha ouro em seu barril, que é análogo às situações que os bancos fazem, com relação à emissão de moeda sem lastro, moeda podre, disseminando inflação, vendendo dívidas, alimentando um fantasma ganancioso e sem senso de misericórdia, fazendo com que o dinheiro suado de um povo trabalhador passe a valer cada vez menos e paguem cada vez mais pelos mesmos produtos e serviços.
De tudo isso, podemos tirar de base o que é essencial para o bem estar de uma empresa: Informação de qualidade nas áreas contabilísticas, administrativas e econômicas.. De modo a se esquivarem ao máximo dos perigos escondidos atrás das “tão pequenas” taxas de juros oferecidas pelos bancos. Tornando-se verdadeiras empresas rentáveis, que gerem lucros e tornem legítimo o sentido de existência de uma empresa que é o sentido do progresso.
Porém, no mundo real, assim como demonstrado na fábula, a intenção não só dos banqueiros, mas de boa parte do governo, é manter uma sociedade ignorante, aquém de seus direitos e possibilidades, tanto econômicas quanto sociais, afinal, poderíamos até mesmo nos perguntar: Qual o percentual da população sabe o que quer dizer inflação, indexação, entre outros termos econômicos? E como já dito anteriormente, quem não possui informação, se torna escravo, objeto. Enquanto não houver pensamento livre e de busca do conhecimento por parte de empresários, administradores, contabilistas, dentre outros, a tendência é de que o sistema financeiro se torne cada vez mais voraz, sujeitando ao fracasso as novas empresas que surgem todos os dias nas mais diversas facetas e ramos da nossa sociedade.     



“Inflação é a arte de falsificar a moeda por conta  do Estado."
Sofocleto.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Só para não esquecerem...

Clique para ampliar.
"Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse, é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade."

Adam Smith, em seu livro 'Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações'


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O que é amor verdadeiro e quando ele nasce?

Antes de começar a leitura, convido-lhe a ter como música de fundo a canção "I Will Always Love You" de Whitney Houston em homenagem à esta grande cantora que faleceu este mês. 

Às vezes me pego pensando sobre o que de fato é o amor, mais precisamente à entender em que ponto o gostar ou a paixão deixam de se tornar sentimentos passíveis de simplesmente desaparecem (literalmente) e se tornam o sentimento mais poderoso existente sobre a face da Terra: o amor, afinal, ninguém ama da noite para o dia.

Lembrando que aqui estou excluindo a ideia do amor fraternal, pois quero me ater à ideia tradicional do romance entre um homem e uma mulher ou sendo mais justo, porque não entre um casal homo afetivo? 
Tenho 22 anos e posso dizer convictamente que nunca amei ninguém. Já gostei, já gostei muito, de tal forma que eu definiria como paixão, então,  diria que já me apaixonei algumas poucas vezes, mas sempre procurei ser o mais sincero possível quanto aos meus sentimentos, de tal forma a nunca ter proferido a frase "Te amo" para nenhuma mulher com a qual já estive até hoje, pois estaria enganando duas pessoas ao mesmo tempo, a mim e a ela, então, um "te adoro" sempre se encaixou de forma mais suave e adequada em momentos de trocas de ternuras, porém, "te amo", essa sempre me soou extremamente forte, de enorme peso, passível de uma responsabilidade tremenda que permita proferi-la de forma sincera à alguém, digo de forma sincera, pois essa palavra se banalizou de tal modo nas últimas décadas que as pessoas dizem "te amo" para o ficante que conheceram na semana passada, para uma pessoa que conheceram no dia anterior pela internet, "te amo" anda tão comum quanto um simples "bom dia", esse "te amo" não conta, ele é automático e não lhe traz aquela sensação de acolhimento e conforto como ao dizer te amo à alguém que você realmente ama.

Sempre tive medo de envolvimentos, de machucar, decepcionar, enfim, sempre temi as esperadas consequências da maioria dos relacionamentos, isso me fez sempre levar ao pé da letra uma frase do livro "O pequeno príncipe": 

"Torna-te eternamente responsável por aquilo que cativas."

Essa frase toca em pontos cruciais quanto ao meu conceito sobre o amor: o primeiro é a eternidade e o segundo é a responsabilidade a qual já me referi acima. 
Sendo assim, a primeira conclusão que tenho sobre o amor é de que ele é eterno.  
Logo, qualquer sentimento que acabe a qualquer momento, fugiu do conceito e mesmo que tenha sido a maior paixão do mundo, não foi o tão sonhado amor. Então, definiria o amor como sendo: 

"O amor é um sentimento natural de eterna responsabilidade pelo próximo. É o sentimento mais responsável e corajoso que conheço, ele não pensa, não mede forças, pois sabe que é maior do que qualquer outra. Essa "prepotência e  irracionalidade" do amor é o que o torna tão responsável, ele enfrentaria um exército para que aquele que ama não sofresse um arranhão, mesmo que isso lhe custasse a própria vida, isso é amor".  

Quanto ao ponto de transição entre gostar e amar,  diria que o amor nasce e não morre, nasce discretamente na convivência, escalando os degraus do gostar e ultrapassando os da paixão, se fortalecendo entre os altos e baixos, nas caminhadas de mãos dadas, na confiança e lealdade, na sensação de segurança e conforto que só o verdadeiro amor nos permite. Pode- se amar uma vida inteira, mas só terá a certeza de que vive o verdadeiro amor em uma tarde de outono enquanto caminha pelo parque com uma senhora de cabelos brancos que mesmo após décadas ao seu lado ainda esbanja brilho nos olhos ao cruzar com seu olhar, que ainda fecha os olhos enquanto recebe um beijo no rosto como se aquilo fosse a única coisa que importasse no mundo, é o desinteresse em qualquer aspecto físico ou material, a consciência de que quando estão juntos vocês não precisam de mais nada além de um do outro e de que quando estão sós, tudo que falta é o outro.

Amar é ser capaz de entregar a vida ao outro sem pensar sequer um segundo entre um "sim" ou "não", afinal, qual mãe pensaria sequer um segundo antes de dizer "sim" em se sacrificar pela vida do filho?
Carrego comigo a ideia de uma "prova real" do amor, quer saber se você ama alguém de verdade? 
Pergunte-se:

"Se hoje a pessoa que digo amar necessitasse do meu coração para continuar vivendo, eu seria capaz de sacrificar minha vida para que ela continuasse a viver?" 

....

Se você pensou antes de responder "sim", sinto muito, mas você não ama de verdade, pelo menos não ainda, se algum dia a resposta for "sim", sem pensar em qualquer circunstância, consequência ou medo, parabéns, você conhecerá o amor. No mais, qualquer um que não esteja disposto a se sacrificar por aquilo que diz amar, não merece o amor verdadeiro, não é digno dele. 

Não se apaixone pela beleza, não se apaixone pelo status, não se apaixone pelo físico, apaixone-se pelo caráter, pelo sorriso, pelo olhar carinhoso, pela simplicidade, talvez assim, um dia, quando sua visão já não estiver mais tão aguçada quanto agora enquanto você lê este texto, quando seus reflexos não estiverem mais tão rápidos quanto hoje, você olhará para a senhora escorada em seu ombro e saberá que ela é tudo o que você precisa na vida, que enfrentaria o mundo para protegê-la, que sem ela você estaria incompleto e que mesmo que ela se vá, ela viverá para sempre em seus pensamentos, nesse momento, você entenderá da forma mais clara o sentimento que é desde os tempos mais remotos o principal combustível dos poetas, você conhecerá o verdadeiro amor, entenderá a responsabilidade a qual me refiro, que é natural e sublime e não imposta ou obrigatória. Mas enquanto isso não acontece, não engane duas pessoas ao mesmo tempo, seja digno do amor, não seja apenas mais um vendedor de ilusões de um mundo em que os sentimentos perderam tanto valor. 


"O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia".- Honoré de Balzac.


Abraços,
E até a próxima. 

Reconhecimento da minha Cidadania Italiana na Itália.

Hoje, como prometido no post anterior "Cidadania Italiana, esclarecimentos gerais", vou relatar minha experiência de reconhecimento da Cidadania Italiana em Julho de 2011 na Itália.


Bom, sou filho de italiano nato, porém, meu pai não me inscreveu perante o Consulado Italiano e faleceu em 2004, quando eu tinha 14 anos. Sendo assim, fiquei apenas com a cidadania brasileira e para reconhecer a italiana teria o mesmo trabalho que tem um neto ou bisneto de italianos. Até meus 18 anos, não tinha intenção em curto prazo de reconhecer a Cidadania Italiana, até que um acontecimento me fez mudar de ideia, uma ex-vizinha que estava ilegal na Inglaterra me ofereceu 5 mil libras esterlinas e a estadia em Londres por conta dela em troca de um casamento de "fachada" para que ela se naturalizasse italiana e ficasse legal em U.K, porém, ao aceitar eu precisava, obviamente, reconhecer minha cidadania, a ideia me interessou e foi ai que comecei a juntar os documentos necessários, fiz as devidas legalizações, traduções juramentadas, enfim, trâmites burocráticos. Em Março de 2009, lá estava eu com todos os documentos prontos para ir para Itália fazer o reconhecimento, havia pego um dinheiro emprestado para fazer esses trâmites pois estava completamente duro, não atoa que 5 mil libras esterlinas (mesmo que pouco) e uma oportunidade de trabalhar em Londres haviam me interessado muito, porém, alguns dias depois veio a surpresa, a moça, depois de conversar com um advogado, desistiu da empreitada, segundo ela porque teria que vir ao Brasil para se casar comigo e como a naturalização italiana por casamento se dá somente após 2 anos de união ela não conseguiria reentrar na Inglaterra antes desse período, e por já ter compromissos profissionais não era possível esperar tanto.

Depois disso fiquei com todos os documentos prontos em uma gaveta e devendo um dinheiro ao banco (legal einh!). Sabia lá eu quando eles me serviriam, até que em 2011 um tio italiano me convidou para ir à Itália, ficaria apenas um mês, prazo relativamente insuficiente para o reconhecimento da cidadania italiana, de qualquer modo, abri a gaveta e peguei confiante a pasta com os documentos e fui para "il bel paese", mais precisamente no pequeno Comune di Mede-Pavia, ao Norte do país. Lá chegando, já no segundo dia fui ao comune (prefeitura) para iniciar o processo, porém, para meu azar, minha cidadania era a primeira que o comune estava realizando, estavam totalmente desorientados, sorte minha ter estudado bastante sobre o assunto nesse meio tempo em que os documentos ficaram na gaveta, então, consegui orientar boa parte do processo, fiz o codice fiscale que é uma espécie de CPF italiano e em seguida dei entrada com o pedido de residência no comune, afinal, tempo era o que eu menos tinha. Quando você entra com pedido de residência, você deve aguardar que um vigia municipal (vigile urbano) vá até o endereço que você forneceu para comprovar que você mora lá e que a residência possui de fato condições para abrigá-lo, em média, o vigia passa em 2 semanas (o que era MUITO tempo para mim), sem a residência seria impossível começar o processo, eu já estava certo de que não conseguiria voltar da Itália como cidadão ítalo-brasileiro, até que no mesmo dia, em um jantar na casa de uma outra tia de Vigevano-PV, comentamos sobre o assunto e meu primo que estava à mesa soltou a frase mágica: _O VIGIA MUNICIPAL DO COMUNE DI MEDE É MEU VIZINHO! (isso mesmo galera, o vigia municipal era vizinho de apartamento do meu primo em Vigevano, que fica a 40 km de Mede), imediatamente meu primo ligou para ele e explicou a situação e no dia seguinte o vigia foi lá em casa e fez o atestado de residência (incrível, tive a residência em 2 dias!!!).

Ai sim, voltei ao comune e deram inicio à prática de Cidadania Italiana, mas como nem tudo são flores, no dia seguinte me ligam e me chamam ao comune falando que havia um "problema" com os docs e lá veio uma  bomba da funcionária do comune: "Seus documentos me parecem falsos!"
Eu: "WTF!!!????" (ou em bom português: Que porra é essa!!!??)
(Ela pensou isso porque no consulado italiano de BH, onde legalizei meus documentos, eles não usam adesivo e sim carimbos no verso dos documentos. A funcionária, porém, insistia que deveria ser adesivo e não carimbo, ai pronto! A bagunça estava feita.)
Corri para casa e abri o Skype, liguei para o Giorgio Crosetti, tradutor que havia feito os procedimentos para mim, pois além de traduzir, como ele é de BH e eu sou de Goiânia, o paguei para que fizesse os trâmites no Consulado de BH. Então o contestei sobre os documentos e ele disse: "_Em 10 anos que trabalho com o Consulado de BH essa é a primeira vez que inventam esse problema, o consulado de BH sempre usou carimbo e ninguém nunca contestou! Se quiser eu lhe passo o telefone da Lídia Milani (uma das chefonas do Consulado de BH) para que você possa confirmar com ela."
Ok. Ele me passou o telefone celular dela, o que não me foi útil nessa situação, mas viria a ser MUITO útil depois e também renderia uma bronca à mim e ao tradutor, mais adiante eu explico o porquê.

Foi nesse momento que pensei em pedir ajuda à uma pessoa que viria a ser meu maior reforço enquanto estive realizando meu processo, uma assessora com longa experiência que se chama Ivete Alcântara, eu nunca a conheci pessoalmente, mas a tinha no falecido MSN, então resolvi pedir ajuda à ela para esclarecer ao comune essa confusão, ela, sem me cobrar um centavo sequer, ligou imediatamente no comune e conversou com as funcionárias, bastou isso para que o comune me ligasse e falasse que o problema estava solucionado, daí em diante, em tudo que o comune tinha dúvidas, eles ligavam para a Ivete, tenho muito a agradecer à ela pois essa atitude dela acelerou muito mesmo o meu processo. Depois disso, ainda tive outros altos e baixos, parecia uma montanha russa de emoções, quando pensava que estava tudo "ok" o comune ligava falando de algum problema, eu tinha que rir para não chorar, quando parecia que estava resolvendo a situação o comune me ligava colocando outros obstáculos, acho que isso ocorreu pelo menos umas 8, exatamente, umas 8 vezes, mas a Ivete ia me ajudando e íamos quebrando os obstáculos...

Depois de muitos altos e baixos, chega a hora de pedir a Non Rinuncia ao Consulado de BH, documento que comprova que o italiano não renunciou à Cidadania Italiana. O prazo de 1 mês na Itália já estava se esgotando e lá me vem mais uma surpresa, ao fazerem o pedido da Non Rinuncia via e-mail, sempre retornava uma mensagem automática dizendo que o e-mail estava lotado, então por mais que enviassem a solicitação, era inútil, pois o consulado de BH não as receberia. Pronto, meu desespero estava a mil! Não era possível que depois de tanto trabalho voltaria ao Brasil sem a tal cidadania italiana.

Foi ai que me lembrei do tal celular da chefona do consulado (lembram?), não deu outra, abri o Skype e liguei pra ela, vou te contar... tomei uma baita bronca, ela dizia que isso era falta de educação, que não poderia usar o celular pessoal dela para esse tipo de assunto e blá blá blá. "Tranquilamente", respondi:

_"Senhora Lídia, peço perdão por estar te ligando no seu celular pessoal, sei que não é correto, mas por favor, esvazie a caixa de e-mail da Non Rinuncia, estão tentando solicitar e não conseguem, por favor, faça isso. Obrigado e boa noite."

Felizmente no dia seguinte conseguiram enviar o e-mail, e o Consulado respondeu minha Non Rinuncia, com a Non Rinuncia em mãos o comune já pode começar os trâmites para transcrição dos meus documentos para o italiano, à esta altura finalmente havia completado a missão de me tornar um cidadão ítalo-brasileiro! Foi uma sensação de alívio incrível, de trabalho cumprido!!

Consegui reconhecer minha cidadania italiana em 1 mês (incrivelmente rápido), mesmo que com muitos, MUITOS problemas.

A lição que tirei do meu processo de reconhecimento de cidadania foi:

"Nunca espere de braços cruzados, use todas suas armas, corra atrás, não ligue para aqueles que dizem que não vai dar certo, que não vai dar tempo. Precisou de algo e não foi respondido? Mande e-mail, fax, ligue, faça sinal de fumaça, insista, faça-se ouvir, vença pelo cansaço, procure ajuda de quem sabe mais do que você, não seja orgulhoso, você sempre terminará sabendo mais do que quando começou. Aprenda o máximo possível, o máximo que puder, nosso conhecimento é nossa melhor e mais confiável arma."

Para você que é descendente e se interessa em reconhecer sua cidadania italiana, eu deixo aqui algumas dicas de onde buscar informações, que me foram MUITO úteis desde que comecei a cogitar tudo em 2008.

Comunidade no Orkut - Cidadania Italiana. - Comunidade esta que desde minhas primeiras intenções sempre foi uma ótima fonte para sanar minhas dúvidas, foi onde mais aprendi sobre Cidadania Italiana. 

Fiquem à vontade para deixar perguntas nos comentários e um grande abraço à todos.
Ciao a tutti.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Cidadania Italiana, esclarecimentos gerais.

Olá caros leitores ! 


Hoje falarei sobre um assunto que pode ser interessante para uma boa parte da população brasileira, afinal, entre filhos, netos, trinetos, etc. de italiano, somos mais de 25 milhões de oriundis apenas no Brasil. O que poucos desses descendentes sabem, é que exceto por algumas exceções as quais citarei no decorrer do texto, os descendentes de italianos possuem o direito à Cidadania Italiana via ius sanguinis, que é o direito de sangue, trocando em miúdos, "todos" descendentes de italianos, são italianos, o que falta em todo caso é o reconhecimento dessa cidadania perante o governo italiano.


Atualmente temos duas possibilidades de reconhecimento de cidadania para descendentes de italianos, uma mais barata e MUITO mais demorada que é o reconhecimento através de um consulado italiano no Brasil (vários e vários anos), ou a segunda que é muito mais rápida e cara (por motivos óbvios) que é o reconhecimento diretamente na Itália (alguns meses). Em ambos os casos, os passos iniciais são os mesmo, juntar os documentos, porém, citarei como exemplo o reconhecimento diretamente na Itália já que é bem mais rápido e viável em termo de tempo. Documentos necessários:


  • Certidão de Nascimento ("estratto dell'atto di nascita") do ascendente italiano que irá originar a cidadania, emitido pelo Comune Italiano
    Caso o ascendente tenha nascido quando ainda não existiam os registros civis (por volta de 1885), apresentar a Certidão de Batismo (ou de Nascimento da igreja) emitido pela autoridade religiosa, com respectivo reconhecimento feito pela Curia, e a carta resposta do Comune atestando que naquela data ainda não existiam registros civis.
  • Certidões de Registro Civil em linha reta, desde o ascendente italiano até o descendente brasileiro que está requerendo o reconhecimento da cidadania. Assim são necessárias em sequência as Certidões de Nascimento, Casamento e Óbito (caso falecido) desde o ascendente italiano até o descendente que está requerendo a cidadania. .
  • CNN - Certidão Negativa de Naturalização emitido gratuitamente pelo site do Ministério da Justiça. (Caso o italiano tenha se naturalizado brasileiro antes de 16 de Agosto de 1992, só terá direito à cidadania italiana os filhos que nasceram antes da naturalização.  (Se a naturalização do italiano ocorreu após 16 de agosto de 1992 o cidadão italiano que adquire outra cidadania conserva a italiana, se não optar pela renúncia formal da mesma e pode transmitir a cidadania aos filhos). 
  • Retificações nos documentos em casos de erros grosseiros, erros mais leves geralmente não representam problemas. (Ex: original do italiano: Mazzuco. Nos docs do brasileiro: Mazuco).  
  • Reconhecer as assinaturas do(s) cartório(s) no Tabelionato de Notas de sua jurisdição.

Com tudo em mãos, o requerente deve iniciar a fase de legalização dos documentos perante o MRE, tradução dos documentos para o italiano feitas por um tradutor credenciado/juramentado e a legalização dos docs brasileiros perante o Consulado Italiano de sua circunscrição consular no Brasl (ex: Consulado italiano de Belo Horizonte atende residentes em: Goiás, Minas e Tocantins). Somente é necessário legalização no consulado italiano para requerentes que solicitarão a Cidadania na Itália.

Com tudo pronto, o requerente está pronto para iniciar sua saga embarcando para Itália, onde iniciará o processo em um comune de sua escolha, porém, para poder iniciar o processo se faz necessário obter o atestado de residencia na Itália, mas o que é isso? 
Atestado de residencia é o documento que comprova que você está habitando no "município" italiano, estando apto à iniciar o processo de reconhecimento, para obter esse documento, você deve já estar morando no comune e entrar com uma solicitação na prefeitura do município em que você está, deixar o seu endereço e dados e aguardar que dentre de alguns dias venha um vigile urbano (guarda civil) até a sua casa, onde ele fará algumas inspeções para verificar se a casa realmente possui condições de comportar o requerente, isso ocorre pois há casos em que 10 estrangeiros ocupam uma mesma casa, sem as minímas condições exigidas, logo, o atestado de residencia nesses casos é negado e não seria possível iniciar o processo de reconhecimento (ter parentes ou amigos que possam lhe conceder moradia na Itália nessa etapa irá lhe poupar uma boa grana, caso não tenha, o mais viável seria a contratação de assessoria, que geralmente inclui moradia). Depois da visita do vigile, estando tudo "ok" com a residencia, o requerente entrega os documentos no comune e assina os documentos necessários ao inicio do procedimento, os documentos serão analisados pelo comune e também enviados em cópia ao consulado italiano do requerente no Brasil para que este confirme a veracidade dos documentos e também faça o envio da Non Rinuncia que é o documento que comprova que o italiano não renunciou à cidadania italiana, mantendo assim o direito à cidadania por parte do requerente (eu particularmente nunca tive conhecimento de algum caso em que o italiano renunciou à Cidadania italiana, realmente é muito raro), chegando a Non Rinuncia que é enviada via e-mail PEC para o comune, este dá inicio aos procedimentos para a transcrição dos documentos do requerente, o que leva alguns dias, ou seja, você terá certidão de nascimento italiana, certidão de casamento italiana, certificado de cidadania, enfim, todos os documentos de um cidadão italiano, feito isso, FINALMENTE você será italiano, tendo direito à RG italiana, Passaporto italiano, livre circulação pela Europa, isenção de visto para viagens aos Estados Unidos, Canadá, dentre outros, sem falar que você está revivendo a história de toda uma linhagem, realmente é muito gratificante essa sensação de missão cumprida.

Todo esse procedimento citado acima, desde a chegada na Itália até a transcrição dos documentos, pode levar de 2 a 4 meses, há relatos de requerentes que já estão há vários meses na Itália esperando a concretização do processo, principalmente esperando a Non Rinuncia, mas são casos particulares e felizmente não uma regra. Como citado, geralmente o que mais "empaca" o processo é o envio da Non Rinuncia por parte do consulado italiano no Brasil, pois como a demanda é muito grande, eles podem demorar até 1 mês ou mais para enviá-las. 

Espero ter deixado claro as noções de como se faz o reconhecimento da Cidadania Italiana na Itália, no próximo post vou relatar minha experiência pessoal de reconhecimento de cidadania diretamente na Itália em Julho de 2011, as dificuldades que encontrei e as dicas que posso oferecer. 

No quadro abaixo você pode verificar em qual situação você se encontra para reconhecimento da Cidadania Italiana. 



Abraços e até a próxima. 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Depois de muito cogitar, minha primeira postagem...

Bom pessoal, depois de um longo período cogitando a construção de um blog - sim, meu segundo nome é procrastinação - hoje nessa noite maravilhosa de Carnaval em que todos meus parentes deram no pé e me deixaram sozinho em casa na companhia de um ventilador barulhento e dois cachorros, resolvi colocar a ideia em prática. 


Sei que deveria (ou não) estar em algum lugar barulhento, bêbado, beijando mulheres desconhecidas e não aparecer em casa antes das 04 da manhã, mas enfim, estou sem dinheiro, sem animação e novamente, quando digo que estou sem dinheiro é porque não tenho 1 real no bolso, acho que isso é o maior impedimento para qualquer coisa na vida, pelo menos no mundo capitalista. Apesar de tudo, estou me sentindo bem nesse quarto frio, escuro e relativamente silencioso, relativamente pois tem o barulho de ventilador que por algum motivo me traz uma sensação de tranquilidade desde criança, podem acreditar, me sinto bem mais seguro com o barulho do ventilador.(e também por algum motivo não aparente adoro o click de grampeadores de papel).


Não pretendo aqui criar uma categoria específica de assuntos, mas sim, os mais variados que surgem em minha vida, o que explica o nome do blog - VidadoDian (me chamo Gianluca, nome italiano com pronúncia Dianluca). Acredito que alguns deles poderão ser úteis para alguns leitores, como por exemplo minha experiência com o reconhecimento da cidadania italiana, a solicitação de um visto americano, ser bolsista do Prouni, enfim, uma vasta gama de assuntos que com certeza poderão ser esclarecedores para muitas pessoas, outros serão apenas assuntos corriqueiros, cotidianos, pensamentos que batem atordoantemente em minha caixola encefálica todos os dias. A verdade é que cansei de escrever apenas nas paredes dessa caixola e sinto a necessidade de exteriorizá-los em algum lugar, acho que Merlin Mann estava certo: 


"Cada um, da sua maneira, contribuiu ao imperativo de que estamos sempre expandindo nossos portfólios de opiniões fortes e superficiais sobre quase tudo. Ai, devemos postar algo. Em qualquer lugar." - (Trecho do texto Better - Merlin Mann). 


Falando nisso, esse é um texto maravilhoso, cuja versão em português se encontra aqui.  Vale a pena a leitura.


Continuando, espero fazer desse blog um ambiente agradável e construtivo, que não sirva apenas de um passatempo para mim, mas que também seja de fato um passatempo para os meus leitores. Aqui, como em minha vida, prezarei pelo pensamento livre, independente, não dogmático e racional, sobretudo, buscando ser claro na explanação dos assuntos, também estando aberto à sugestões, reclamações e diálogos. 


Por enquanto é isso meus caros, logo mais posto algumas novidades. 


Abraços e um maravilhoso Carnaval à todos, responsável e consciente.