segunda-feira, 4 de junho de 2012

Exportar apenas commodities pode enriquecer, mas não desenvolver.

O Brasil encontra-se atualmente em uma posição de destaque no cenário internacional, teremos a Copa em 2014, as Olimpíadas em 2016 e estamos vivenciando um "BOOM" econômico (pelo menos é o que dizem). Tudo isso atrai olhares, principalmente de estrangeiros, quando estive na Itália pela última vez sempre me questionavam interessados sobre o bom momento do país, nos Estados Unidos, a mesma coisa, foi assim que percebi que há uma visão equivocada do estrangeiro com relação ao Brasil e para piorar, por incrível que pareça, conseguiram colocar também na cabeça do brasileiro que ele de fato vive em uma potência. Bem, pode até ser, depende do ponto de vista, mas chega de blá blá blá e vou explicar por que dificilmente o Brasil se tornará de fato um país de primeiro mundo, um país desenvolvido, mesmo estando entre os mais ricos...
A economia brasileira possui um grande eixo, que é a exportação de commodities, que são matérias primas usadas nos mais diversos setores, sobretudo, na alimentação animal e humana, tais como: soja, carne, trigo, algodão, café, minério de ferro, etc, e que são exportados principalmente para a China, nossa maior compradora, podemos salientar ainda que devido a menor demanda na Europa e nos EUA, a China necessitou de menos matéria prima no primeiro trimestre de 2012, resultando em uma queda de 7,3 % no setor agropecuário brasileiro nos primeiros três meses do ano o que "propiciou" uma tímida alta do  PIB de apenas 0,2% surpreendendo até mesmo os mais pessimistas. Isso deixa claro o quão o Brasil é dependente da exportação de commodities, e, através dos exemplos abaixo quero deixar claro um dos principais freios do Brasil rumo ao desenvolvimento.

Tomemos como exemplo a exportação de uma produção de soja para nosso maior comprador, a China. Imagine desde que o produtor iniciou o plantio da soja, fazendo o uso de pesadas máquinas agrícolas, depois vieram o inseticidas para combater as pragas e ervas daninhas, depois a colheita também mecanizada, em seguida, o transporte para o porto em grandes carretas, percebam que apesar de ser um processo que envolve uma grande quantidade de produto, no caso a soja, é um processo extremamente mecanizado, que depende de poucos trabalhadores desde o plantio até o porto onde será embarcada em navios para a China. Esse é o grande problema do país que tem sua base na exportação de commodities, apesar da enorme quantidade de dinheiro e mercadorias que gira, há uma empregabilidade mínima de mão de obra humana e a maioria absoluta desse capital vai para as mãos de meia dúzia de latifundiários e do governo. Temos ai o primeiro ingrediente de como NÃO construir uma país desenvolvido: A concentração de renda.

Agora, para facilitar o contraste, citarei um segundo exemplo, vamos imaginar uma indústria manufatureira que produza calçados de couro. Imagine desde o cortume onde o couro foi preparado, o transporte até a indústria, a costura do couro, a fixação da sola no calçado, a fabricação das embalagens, o transporte até os revendedores e por último os vendedores que serão necessários para repassar esse produto ao consumidor final. Pronto, tenho certeza que conseguem visualizar uma quantidade muito maior de trabalhadores empregados, uma melhor distribuição de renda, dessa forma mais pessoas estão empregadas e gerando renda, ao contrário do que ocorre com exportações de commodities.
Porém, o Brasil não consegue ser competitivo em mercados como citado no segundo exemplo, pois conta com uma alta carga tributária, uma das maiores do mundo, conta também com uma precária infraestrutura, o que encarece o transporte das mercadorias, tudo isso resultará em um alto custo para o consumidor final, tirando a competitividade do produto no mercado internacional e, às vezes, até mesmo no nacional.
Por essas e por outras é que temos um país que, apesar de ser a 6ª maior economia do mundo, está em posições alarmantes em rankings que verificam a qualidade da educação, saúde e de forma geral o IDH.
É importante deixar claro que a exportação de commodities não são um problema, pelo contrário, são uma das principais riquezas do nosso país, porém, o Brasil deve procurar se promover também em mercados que gerem maior distribuição de renda e empregabilidade, mas isso não se faz do dia pra noite, é preciso uma drástica reforma fiscal, que reduza os custos de produção, investimentos em infraestrutura e mão de obra qualificada e, não menos importante, uma grande revisão (leia-se: redução) na "burrocracia" brasileira, caso contrário, continuaremos sempre sendo como hoje, um país com muito dinheiro, porém, nas mãos de poucos, que está sempre entre os primeiros no ranking dos mais ricos, mas que estará sempre atrás em qualidade de vida, saúde, educação, competitividade e liberdade de mercado. A Dilma diz que país rico é país sem pobreza, eu diria que: País rico é país desenvolvido.