quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Ilha dos Náufragos – Uma fábula para entender o dinheiro.

Em 2011 fiz este trabalho para estudantes do curso de Ciências Contábeis baseado na fábula "Ilha dos náufragos - uma fábula para entender o dinheiro". Mais precisamente um Estudo de Caso, trabalho este que recebeu nota 9, então acredito que será útil àqueles que necessitarem fazer um trabalho baseado nessa fábula. Boa leitura.

Introdução:

A fábula trata a ideia de um sistema financeiro aplicado à um novo “Estado”, no caso a então denominada “Ilha dos Náufragos”, através de uma parábola entrelaçando o surgimento do dinheiro, dos bancos, da exploração do trabalho e, sobretudo, das mazelas por trás destes. (conteúdo esquerdista detected hehe).
Visando uma melhor compreensão da narrativa lúdica da fábula para uma melhor aplicação ao estudo de caso, me atenho inicialmente à um contraponto entre a fábula e o  real funcionamento do "sistema", explanando um pouco da real história do dinheiro e dos bancos, enfim, dos primórdios do sistema financeiro. 
Na relação econômica, tudo começa após os problemas com o até então utilizado método de “escambo”, ou seja, a troca de um produto por outro “equivalente”, mas que boa parte das vezes não era tão equivalente assim e acabava devido à desproporcionalidade nessa relação, gerando conflitos e ocasionando descontentamento de alguma das partes envolvidas na troca de bens. Observando a necessidade de um meio comum que pudesse facilitar a troca e levando-se em conta que o ouro já era considerado valioso por todos, surgiu a ideia de utilizá-lo como meio de compra, o preço foi estabelecido para o ouro, e assim ficavam mais fáceis as comercializações, criando-se então uma moeda de troca, o homem passa a utilizar o ouro como moeda, visando dessa maneira, solucionar os problemas ocorridos com o método de escambo. Tempos passam, e as pessoas começam a perceber que não é tão seguro assim manter o ouro em posse pessoal, pois da mesma forma que hoje, em tal época também haviam ladrões dispostos a se apossarem de tal ouro. Baseados nessa ideia, para oferecer segurança à essa moeda, surgem aqueles que oferecem um local seguro onde se possa guardar o ouro em troca de uma “pequena” parte deste pelo serviço, uma espécie de taxa, eis que surge ai o primeiro banco da história. As pessoas que depositavam seu ouro no banco recebiam como comprovante de depósito os “I.O.U” (pronunciado em inglês, tais siglas tem a pronúncia semelhante a frase EU DEVO PARA VOCÊ), que eram uma espécie de escritura informal a qual se devia levar ao banco para poder então retirar o ouro lá depositado. As pessoas perceberam que ao invés de retirar o ouro no banco para comprar algum produto, seria mais conveniente entregar o “I.O.U” ao vendedor em troca da mercadoria, para que este em seguida retirasse o ouro no banco, esse método conveniente passou a ser usado em larga escala, tornando-se bastante popular, de tal modo que assim surgia de maneira sútil os primórdios do “papel moeda”. Como bem percebe-se havia uma relação em que o banco tornava-se possessor do ouro e em troca emitida os I.O.U para seus “correntistas”, visando o lucro com as taxas cobradas, situação análoga à fábula, percebida na atuação do banqueiro Martinho para com os náufragos.
Os banqueiros começaram a perceber, que poderiam emitir “I.O.U”s, mesmo sem ter ouro suficiente nas reservas, e assim, cobrar juros daqueles que pegassem essa “moeda” emprestada para pagá-la posteriormente ao banco com os devidos encargos, surgiam então, os primeiros empréstimos bancários. O banco emitia moeda, porém, sem lastro no ouro, dando origem à assim chamada emissão de “moeda podre”, ou seja, uma moeda que teoricamente, não possui valor, lastro na então riqueza que regulava a emissão de moedas, o ouro. Tais emissões de moedas desvinculadas das reservas de ouro  dão inicio à explosão inflacionária, quanto mais moeda há em circulação, menos valorizada ela se torna, logo, demanda de uma quantidade maior de moeda para comprar um mesmo produto. As pessoas ao descobrirem tal farsa (emissão de moeda podre) correm para retirar o seu ouro, porém, como todas fazem isso ao mesmo tempo, não há ouro suficiente para reembolsar à todos. Ocorre ai o primeiro “default” bancário da história, nasce uma ideia tirana, a ideia de transformar papel sem valor em “ouro”, uma amostra das mazelas que os sistemas bancários poderiam/ podem provocar no sistema financeiro mundial.

Aplicação à Empresa. Estudo do caso:

A fábula nos permite um estudo comparativo com relação à elaboração empresarial, em que podemos fazer analogia entre os náufragos e os “imagináveis” dirigentes de uma nova empresa que se iniciam em um mundo novo, um território desconhecido, o mundo das empresas, cada um com suas particularidades e perspectivas com relação ao “novo” e desconhecido mundo dos negócios.
Ao atuarem na nova empresa, todos procuram aplicar suas melhores habilidades, apreciando o território promissor e lucrativo que há pela frente, afinal, toda empresa para manter sua existência, depende de algo essencial: o lucro. Quando esse não existe e passa a ser negativo, denominando-se prejuízo, nenhuma empresa consegue sobreviver, ela perde sua função e sentido de existência.
Fato é, que ao abrir uma nova empresa, várias pessoas se apegam à ideia de uma expansão rápida, explosiva, sem base nem alicerce. Podemos perceber na fábula, que todos os companheiros apesar de se dedicarem ao progresso de sua ilha e conseguirem até mesmo um sucesso inicial, não possuem o devido conhecimento econômico que possa lhes permitir formar um sistema financeiro na ilha dos náufragos e ficam apenas vivenciando as  ideias do quão maravilhoso seria haver uma moeda de troca, em conversas que não produziam resultados e continuavam apenas sendo ideias, somente conseguindo resolver a questão com o chegada na ilha de mais um náufrago, o banqueiro Martinho, que faz o uso de toda sua astúcia de banqueiro para lucrar sobre a ignorância alheia, de modo a gerar dividas “ad eternum”, impagáveis, que visam manter escravos rentáveis para o grande “Mammom”, fazendo com que os náufragos se tornem totalmente dependentes da sua atuação financeira.
Isso é por vezes, o que percebemos no território empresarial, maior parte das empresas se dissolvem em menos de dois anos por falta de conhecimento administrativo, contabilístico e, sobretudo, visão a longo prazo, vislumbrados com as possibilidades de expansão em tempo recorde, os novos empresários, despreparados e ansiosos, acabam seduzidos pelos empréstimos bancários “ofertados” com juros “reduzidos” e altamente financiáveis, que acabam se tornando as correntes da até então, promissora empresa. Os lucros de tal empresa, além de destinados a cobrirem os gastos com manutenção, pagamento de salários, despesas, reservas da empresa, etc, acabam direcionados em boa parte para o pagamento de juros mensais, os quais por mais que sejam pagos, sempre deixam para trás o capital principal, claramente, um ciclo vicioso, que arruína milhares de empresas pelo mundo.
Esse é um dos principais motivos pelo qual muitas pessoas fracassam em suas investidas, a desinformação. A desinformação, denominada de forma mais pejorativa como ignorância é uma inimiga tirana, nos torna escravos dos interesses alheios, dos que possuem esta informação que não possuímos, por esse motivo, por exemplo, existem as empresas de consultoria, estas buscam soluções para os problemas os quais, por falta de informação, não temos a solução e em troca disso recebem um pagamento do qual retiram seus lucros. Já dizia o velho adágio, “informação é poder”. E no caso principalmente de novos empresários, pode significar o poder de se manter no mercado e não servirem apenas de acréscimo às estatísticas de insucesso do SEBRAE.
Percebemos no decorrer da fábula, que os náufragos depois de submetidos ao tirano sistema bancário de Martinho, perdem a alegria de viver, trabalham mais, para pagar mais, e não para lucrar mais, semelhante ao que enfrentam as empresas que se tornam escravas do sistema bancário e dele se tornam dependentes. Percebe-se, porém, que essa história de submissão muda a partir do momento em que um deles – Tomás - descobre na ilha uma versão do primeiro ano de Vers Demain“, um jornal canadense emitido pela “Peregrinos de São Miguel” e que defende o catolicismo e a visão econômica do crédito social. Ou seja, a partir do momento em que a informação econômica começou a circular dentre o grupo, e deixar claro o que era necessário para um funcionamento mais eficaz do sistema financeiro, os náufragos encontraram a força necessária para se livrar das garras do sistema opressor. Eles perceberam que através de uma simples questão de contabilidade poderiam deixar o sistema financeiro de Martinho e adotarem ao “crédito social”, que tornaria mais “humano” e teria como o próprio nome sugere, um fundamento real de ajuda social, uma melhoria da sociedade como um todo.
Eles descobrem também que Martinho na verdade não tinha ouro em seu barril, que é análogo às situações que os bancos fazem, com relação à emissão de moeda sem lastro, moeda podre, disseminando inflação, vendendo dívidas, alimentando um fantasma ganancioso e sem senso de misericórdia, fazendo com que o dinheiro suado de um povo trabalhador passe a valer cada vez menos e paguem cada vez mais pelos mesmos produtos e serviços.
De tudo isso, podemos tirar de base o que é essencial para o bem estar de uma empresa: Informação de qualidade nas áreas contabilísticas, administrativas e econômicas.. De modo a se esquivarem ao máximo dos perigos escondidos atrás das “tão pequenas” taxas de juros oferecidas pelos bancos. Tornando-se verdadeiras empresas rentáveis, que gerem lucros e tornem legítimo o sentido de existência de uma empresa que é o sentido do progresso.
Porém, no mundo real, assim como demonstrado na fábula, a intenção não só dos banqueiros, mas de boa parte do governo, é manter uma sociedade ignorante, aquém de seus direitos e possibilidades, tanto econômicas quanto sociais, afinal, poderíamos até mesmo nos perguntar: Qual o percentual da população sabe o que quer dizer inflação, indexação, entre outros termos econômicos? E como já dito anteriormente, quem não possui informação, se torna escravo, objeto. Enquanto não houver pensamento livre e de busca do conhecimento por parte de empresários, administradores, contabilistas, dentre outros, a tendência é de que o sistema financeiro se torne cada vez mais voraz, sujeitando ao fracasso as novas empresas que surgem todos os dias nas mais diversas facetas e ramos da nossa sociedade.     



“Inflação é a arte de falsificar a moeda por conta  do Estado."
Sofocleto.

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